Monday, July 19, 2010

Adenosina Trifosfato ao Pequeno Almoço

Lê-se no Publico online (Pergunta do exame de Biologia pede algo que não é possível, afirma associação de professores) que a Associação Portuguesa de Professores de Biologia e Geologia discorda de um par de perguntas feitas num exame nacional de biologia. Em questão está, e passo a citar, "a associação de processos de produção de ATP a mecanismos de hidrólise de polissacarídeos requerida suscita-nos muitas dúvidas científicas" e acrescena que "apesar dos processos catabólicos serem globalmente exoenergéticos, o processo solicitado (hidrólise de polímeros) não é possível de síntese de ATP".

Cá está. Isto é realmente um aspecto fundamental de discórdia entre a associação e o Ministério da Educação que preparou o exame! Eu estaria muito mais preocupado com a quantidade de inutilidades que fazem a juventude decorar. Digam-me lá: em que medida é que este conhecimento é importante para um futuro estudante universitário? Ou para um futuro empregado?
Arriscaria dizer que de todos os alunos que frequentaram esta prova, e estou a falar em números absolutos, se houver 2 que num futuro a 30 anos estiverem a trabalhar com polissacarídeos vai ser uma sorte. E nessa altura, se tiverem dúvidas, não vão certamente dizer "em boa hora estudei isto quando tinha 18 anos". Não! Vão à wikipedia como faz qualquer pessoa que estude ou trabalhe.
E o problema não é da Biologia. É um problema transversal a [quase] todas as disciplinas que se leccionam tanto no secundário como nas faculdades: inúteis.

Ponham mas é os jovenzinhos a desenvolver a capacidade de raciocínio, de lógica e de linguagem porque lhes vai ser muitíssimo mais útil no futuro, do que a decorar os processos catabólicos da síntese do ATP!

4 comments:

francisco feijó delgado said...

Não concordo inteiramente.

Primeiro, quem faz a prova específica de Biologia no 12º à partida irá para uma área relacionada com essa disciplina (biologia, bioquímica, medicina, farmácia...).

Segundo, há uma parte do ensino que não tem de ser vocacional, mas sim parte da formação duma cultura geral, científica ou não científica. Não digo que seja perfeito e concordo que há muitas inutilidades, mas tem de existir uma formação transversal em que muitas das coisas não têm uma aplicação imediata.

botinhas said...

Eu fiz o exame nacional de Biologia e não trabalho nem de perto nem de longe na área dos mecanismos de hidrólise de polissacarídeos.
Eu, tal como muitos dos que fazem o exame nacional de biologia, fazem-no porque têm que fazer. Na altura bastava-me ter durante o 12º 14 ou mais valores, para poder ter 0.00 no exame e mesmo assim passar (e curiosamente sem afectar grande coisa a média de acesso). Tive 11 porque não não estudei peva. Chegou perfeitamente e estou muito orgulhoso disso.
Cultura geral é uma coisa, decorar aquilo que os desgraçados que queriam ir para medicina tinham de decorar é absolutamente ridículo e nunca fará deles melhores médicos.

E mais! Se é cultura geral não se subjuga a exame nacional. É uma perca de tempo e de dinheiro. Ensinem isso a CTV, quem quiser aprender, aprende, quem não quiser pode voltar para a mercearia do pai.

JoPeXav said...

Pimão,
É só para te dizer que, enquanto arquitecto de província, fico muito satisfeito por me recordar do processo de fotossíntese, do ADP e do ATP...
Efectivamente aprendi isto em biologia do 9º ano e até ao momento nunca tive de recorrer a tal para projectar um edifício com parede dupla com caixa de ar e isolamento em poliuretano!
Contudo, penso que se as pessoas conhecessem o ATP, haveriam muito menos líquenes a chatear todos os dias!

abraço,

botinhas said...

Primão,
conhecer os mecanismos de hidrólise de polissacarídeos é tão inutil para ti como é para um futuro médico.
Saber o que é o ATP e a fotossíntese, acho muito bem, ter de saber os mecanismos de hidrólise de polissacarídeos (entre outras inutilidades) é outra. E pior que isso é escolher os futuros médicos com base em puro marranço de matérias inúteis!