Sunday, January 30, 2005

conhecer

Num nivel mais fundamental a razão para as pulsões e para a vontade do ser humano encontra-se no seu inconsciente. O inconsciente representa assim um conjunto de premissas pelas quais o ser regula o seus comportamentos e pensamentos, (pois os comportamentos advêm de pensamentos, podendo estes ser ou não pensados de forma consciente) para que seja assegurada a sua preservação num ambiente.
Este comportamento induzido pelas pulsões e pela vontade provenientes do inconsciente podem ser filtrados pela mente consciente que abarca um conjunto de regras e imposições sociais estabelecidas por forma a que o instinto de sobrevivencia individual não se sobreponha ao instinto de sobrevivência da espécie como um conjunto numeroso de indivíduos.
Assim, o comportamento de determinado ser é o conjunto das suas pulsões e vontades mais imediatas com aquilo que a sua mente consciente considera como sendo correcto. No entanto o âmago do ser é independente deste esquema de regras sociais impostas à posteriori. O ser é aquilo que o seu inconsciente determina e o conjunto das informações que o ser possui no inconsciente são a verdade para si. As regras sociais só se tornam verdadeiras para um ser assim que este as absorva para o seu inconsciente, assim que deixe de pensar conscientemente nelas. Desta forma deixam de existir ambiguidades e discrepâncias de comportamento em função de situações: o ser comporta-se de uma forma homogénea, adaptando-se de forma automática às diferenças presentes entre ambientes.

Da mesma forma o conhecimento adquirido pelo ser humano pode ou não ser verdadeiro para si, caso este o tenha absorvido nas suas entranhas, o tenha re-descoberto, ou caso o tenha absorvidosuperficialmente pelo consciente. A escola e os livros dão conhecimento que encaixa na segunda hipótese. O ser humano desenvolto poderá absorver conscientemente o conhecimento que lhe é oferecido pela escola e pelos livros, no entanto, este conhecimento só será verdadeiro, só será genuíno, caso exista a sua transição do consciente para um nivel mais profundo, inconsciente, no qual o sentido do apreendido é total e verdadeiro. Apenas o ser que re-inventa, re-pensa, re-descobre o que já foi inventado, pensado e descoberto, ou seja o que existe nos livros e o que é ensinado na escola, pode aclamar ser detentor da verdade. A espontaneadade da re-invenção, da re-descoberta, do re-pensar conferem este estado ao ser: o conhecimento passa assim de um nivel puramente racional, para o nivel das emoções na medida em que estas são re-descobertas e re-inventadas sempre que o individuo passa por determinado conjunto de situações, sendo verdadeiras e adaptando-se sempre de forma bela ao conjunto infinito de circunstâncias a que o ser pode ser submetido. Assim, o conhecimento existente nos livros e na escola não passa de um mero simulacro da realidade e o ser que rege o seu pensamento puramente pelo apreendido de forma superficial em livros e na escola, tem o seu raciocínio toldado pelo conjunto limitado de situações apreendidas.

A re-invenção e re-descoberta deverão ser as formas de excelência pelas quais o ser apreende o mundo e a natureza. Existem, no entanto, determinadas situações que não podem ser re-descobertas pelo ser humano a menos que este passe por um conjunto de experiências que as induzam. A fome, a falta de liberdade, a dôr, a capacidade de sobrevivência, etc só podem ser apreendidas realmente, isto é, apreendidas pelo insconsciente, pelo âmago do ser, assim que este tenha experiência sobre elas. Os livros e a escola limitam-se a dar uma descrição dos fenómenos: o ser que lê e ouve não poderá jamais clamar que possui em si um conhecimento mais valioso do que o ser que experimenta, pode apenas aclamar um conhecimento complementar e sempre inferior conhecimento proveniente da experiência e da re-descoberta.

1 comment:

eia said...

De todo um texto muito bem construído e estruturado fazendo analogia ao conhecimento exterior ao que apreendemos..
sem dúvida que o inconsciente nos governa e somos liderados por pulsões recalcadas que no modelo do iceberg d Freud esforçam-se por vir a tona. O q eu considero é o contrário..do iceberg..a parte inconsciente devera estar em cima e a consciente em baixo d nivel da agua porque o que apreendemos, muitas vezes,tende a querer dominar a que somos na pura essência.logo a parte consciente tende a dominar..mas os dois modelos estao correctos pois podemos encarar a parte submersa cmo o consicente q é como nos "mostramos" ao exterior...e as pulsões a lutarem la do fundo pa submergir tambem..
Referindo-me ja ao final, obvio que a experiência é a unica forma de conhecimento puro..real.o que advem da nossa aprendizagem, seja ela qual for, não nos traz nada de novo.
Mas resumidamente vivemos continuamente numa luta entre o que somos e o que moldamos..
******* =)